O Aikido em minha vida

por Fernando Komatsu


“Preservar as características marciais do Aikido é essencial ou põe-se em risco as
suas bases, por isso pratico com empenho, firmeza, intensão."

A pratica de artes marciais foi iniciada cedo em minha vida. Iniciei com judô aos 5 anos e depois seguiu karate, kung-fu, taichi chuan. Aos 15 anos, motivado em ajudar um amigo que tentava trazer o Aikido para Piracicaba, participei dos primeiros treinos.

Não tinha pretensões, era como “brincadeira”. Provavelmente por isso foi uma das
melhores épocas de treinamento. Não havia buscas frenéticas, apenas participava,
treinava e estava presente. As outras artes marciais já não faziam tanto sentido e sem
explicação lógica, apenas me voltei mais neste caminho de forma natural.

Aikido é uma arte marcial. Há técnicas de imobilizações, projeções, quedas, contorções
que são eficientes. É um método de autodefesa! Suas técnicas têm aspectos
educacionais, históricos e filosóficos. E isso é a base para a construção do que é
fundamental. Preservar esta característica marcial é essencial ou põe se em risco as
bases do Aikido, por isso pratico com empenho, firmeza, intensão.

A parte mais bela, na realidade está na filosofia, encontrada justamente na tradição,
hierarquia, postura e conjunto de princípios (budô) presentes nesta arte que busca a
harmonia. É um método de encontro com o que é Real, do encontro do praticante com
sua essência humana e de seu encontro com o próximo na forma mais simples e
verdadeira.

Aikido é religião. Não na forma de sistemas específicos de pensamentos (catolicismo,
islamismo ou outras...) ou outras possíveis interpretações da natureza, mas na forma
mais singela e pura. A essência do ser vivo é sua própria existência. Pensamentos e
interpretações da realidade são sempre entendimentos parciais. E assim são as
religiões. A pratica do Aikido enfatiza sentir o movimento; enfatiza-se o viver, respirar,
sentir-se como ser vivo que faz parte da natureza. Quando entro no Dojô, na verdade já
iniciei meu “ritual” enquanto vestia o dogui; sento-me em seiza como forma de criar
uma separação entre dentro e fora do Dojô. Deixo tudo fora, entra apenas a pessoa. O
treino deve obedecer ao princípio ‘makoto” - sinceridade espontânea, livre de
duplicidade e artifícios. Sinceridade a todo momento, em sentimento, em simpatia e
principalmente em amor. Procura-se o autoconhecimento, o equilíbrio e tornar-se uma
pessoa melhor a cada momento. Isto é o que vejo de comum com “religião”. No Dojô
se dá a pratica e a mesma ligação entre ser vivo e natureza, criador e criação, homem e
universo que vejo nas religiões.

Aikido também é atividade social. Treina-se com todos os seres humanos, não se tem
separação por idade, sexo ou credo. Promove-se o contato entre pessoas. Um treino
para a vida cotidiana que exige contatos com parentes, amigos e pessoas de todos os
lugares.

A Associação Botucatuense de Aikido é uma ótima experiência neste campo. Foi criado
uma associação baseada nas pessoas. Aboliu-se a ideia de pagamento em dinheiro e
enfatizou-se a ideia da contribuição. Todos eram obrigados a contribuir de alguma
forma que pudesse. O professor contribuía com ensinamentos, quem podia contribuir
na forma de pagamento muito bem e aquele que não podia, não foi menosprezado ou
deixado de lado. Este contribuía de outra forma como por exemplo, cuidando da
limpeza ou tomando conta das finanças e secretaria. Assim todos eram iguais no treino.
Todos eram apenas praticantes contribuintes. Criou-se um fundo monetário da
academia e seu destino era decidido democraticamente entre os praticantes. Foi
possível por exemplo transportar e pagar as inscrições dos alunos em seminários em
São Paulo. Fez-se marketing em rádios e jornais, além de adesivos de carros. Criou-se
então um espaço onde as próprias pessoas são importantes por si e onde podiam se
sentir parte integrante. O ganho maior foi a valorização do ser humano
individualmente e no grupo e a possibilidade de se fazer isso de forma tão simples.

Pessoalmente também posso lembrar da experiência de uchidechi que fui do Sensei
Donavam por um ano. A simplicidade e verdade eram preservadas. Éramos praticantes
com o objetivo único do aperfeiçoamento em Aikido. As diferenças monetárias, étnicas
e títulos eram deixados de lado. E assim, eu cuidava da limpeza do Dojô, banheiros e
área social para que pudéssemos sempre ter um lugar agradável onde praticar.

Finalizo esta exposição da presença do Aikido em minha vida pelos princípios
essenciais da gratidão.

Obrigado Deus (universo) pelo dom da vida.
Obrigado pai (professores e ancestrais) pelos esforços incontáveis e pelo
acompanhamento destes anos que vemos o quanto tem florescido agora.
Obrigado a todos (ao próximo) os que participaram de forma momentânea ou não em
minha vida.
Obrigado a natureza (plantas e animais que sacrificam a vida por nós) que permite
meu sustento.

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